Há um ditado
que diz que o verdadeiro amor está na renúncia. Porque se nada nessa vida é
permanente, não há lógica em esperarmos que os amores o sejam. Nosso lado
romântico torce para isso afinal, ninguém começa uma relação já pensando em
quando ela vai terminar. Ainda bem.Essa embriaguez
que o início das paixões provoca na gente nos permite viver o hoje, em vez de
focarmos num futuro que não nos pertence ainda. E quando entendemos que o que
temos é somente o agora vivemos cada segundo intensamente, pois ele nunca mais
vai se repetir.
Enquanto o agora for feliz, vale a pena. Mas no momento
em que ele deixar de provocar felicidade, precisamos aprender algo que só a
experiência nos ensina: deixar ir. Nunca é fácil. O cheiro do outro parece
insistir em permanecer pela casa. Tem o livro que ele esqueceu na estante. A
camiseta da qual você se apossou. Aquela bolacha de aveia que ela adorava – e
você não – e que hoje mofa na dispensa. Tem o relógio que bate 21h todos os
dias – a hora em que vocês se falavam a noite. Tem o vazio na parede do porta-retratos
que foi parar numa caixa escura. Tem o vício da companhia do café depois do
almoço. Tem a paçoquinha que ele te trazia todo dia quando chegava em casa. Tem
a cama de casal que agora parece vazia demais.
Dói. Pode parece bobagem, mas é extremamente difícil nos
livrarmos desses pequenos fragmentos do passado que carregam com eles memórias
– algumas boas, outras nem tanto, mas todas remetem a uma coisa que deixou de
existir e que, portanto, deixou saudades. Mas somente desapegando conseguimos
virar a página. Não dá pra levar as pastas e os arquivos do trabalho antigo pra
o trabalho novo. Para que coisas novas possam chegar, é preciso deixar
ir.
E quando o novo chega, você finalmente entende a
importância desse processo. Você percebe que o vazio que pareceu ficar com o
desprendimento foi logo ocupado por algo que te trouxe felicidade. De repente
as memórias que doíam tanto hoje não doem mais. A ferida fechou e fez surgir
uma nova pele. E com ela, promessas de um futuro bom.
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